Delfim Amorim e Luís Oliveira Martins: Casa António
Rocha, 1947 - Guimarães
1. As características do contexto de intervenção e o
modo como o projecto lhes responde
Tendo em conta a área de terreno disponível para a
construção da Casa António Rocha, o arquitecto Delfim Amorim optou por levantar
a casa sobre pilares de forma a obter um maior proveito do espaço libertando-o
para jardim. Com igual intuito, e aproveitando o facto de a casa estar assente
em pilotis, criou na habitação uma cobertura jardim da qual é possível
vislumbrar uma paisagem da cidade de Guimarães. Observando uma planta
topográfica que o arquitecto desenhou, podemos acrescentar que o formato da
casa se assemelha ao formato do lote em que se encontra assente.
2. A lógica funcional e espacial da planta que melhor
representa o projecto
A planta seleccionada corresponde ao primeiro andar,
onde se distribui a zona mais privada da habitação. A organização apresentada
na mesma, remete para a ideia de “casa-tipo,
casa-máquina de habitar”1,
conceito que surgiu aquando do movimento moderno, e que visa “alterar os códigos de articulação
tradicional dos espaços”1. O
conceito aplica-se a esta obra, devido ao facto de estarem aglomeradas todas as
funções privadas no primeiro andar, como já referido anteriormente, deixando
nos restantes pisos as funções associadas a um programa mais burguês, como é o
caso da saleta de receber, da garagem, da sala de brinquedos e do quarto das
criadas. No primeiro andar encontramos a maior divisão da habitação, e, talvez,
uma das mais curiosas opções de Amorim (o escritório comunica mais abertamente
com a sala de jantar), a única à qual se pode aceder directamente pois não é
fechada, servindo assim como espaço de estar e de recepção, sem que para isso
seja necessário passar pelas restantes divisões. A planta permite igualmente
estabelecer o contraste evidente entre a forma mais geométrica que caracteriza
as divisões e o movimento mais fluido e orgânico que as escadas adquirem.
3. A lógica funcional e espacial do corte que melhor
representa o projecto
A partir do corte seleccionado, podemos perceber a
importância adquirida pelas escadas na divisão das diferentes áreas, pela
posição central que ocupam. Apercebemo-nos ainda da presença de dois dos cincos
pontos da arquitectura moderna segundo Le Corbusier, a construção sobre pilotis e a cobertura jardim.
As escadas assumem um papel bastante importante na
construção. Tal facto é evidenciado tanto na planta como no corte. Estas
permitem que a circulação pelos diferentes pisos da habitação e a própria
divisão das distintas áreas seja feita de modo independente. Desta forma as
escadas assumem um papel autónomo mas essencial na casa, como se tudo se
desenvolvesse em torno delas.
4. Os aspectos do projecto mais próximos dos modelos
canónicos do movimento moderno
Quanto aos aspectos do projecto que mais se aproximam
dos modelos canónicos do movimento moderno, podemos dizer que esta habitação
assume os cinco pontos principais “fundados” por Le Corbusier. A casa, como
referido anteriormente, está assente em pilotis, tendo como principal objectivo
a libertação do solo para um melhor aproveitamento do espaço destinado ao
projecto. Este ponto permitiu neste caso específico a criação de canteiros de
jardim. Uma outra intenção pode ser verificada através da elevação da habitação
sobre pilotis: a tentativa de libertar a fachada, elevando-a. O segundo ponto
da arquitectura moderna observado neste edifício é a planta livre. Através das
plantas da habitação concluímos que as suas paredes em nada contribuem para a
estabilidade da casa, adquirindo um carácter neutro no que diz respeito à sua
estrutura, uma vez que as paredes, feitas de blocos vibrados e tijolo, são
muito diferentes nos três pisos que a compõem. Assistimos a uma planta que não
segue pictoricamente a estrutura, e onde o espaço é conformado de uma forma
independente. O alçado livre, que resulta da independência da estrutura, é
também um dos outros pontos defendidos por Le Corbusier que figura no projecto.
Tal como é visível na maioria dos alçados da casa António Rocha, a janela
horizontal permite a entrada abundante de luz natural, assim como uma relação
estreita com a paisagem que a envolve através de grandes aberturas, neste caso
de vidro. Por último, mas não menos significativo, a cobertura jardim, um dos
aspectos fulcrais que torna esta casa tão atractiva, conseguindo assim o
prolongamento da envolvente próxima e criando um espaço de estar “emocionante”,
suspenso e criado em altura.
A Casa António Rocha assemelha-se à Ville Savoye, de
Le Cobusier, quer pela presença dos cinco pontos acima referidos, quer pela
parecença estética das duas habitações.
5. Os aspectos do projecto que mais
se distanciam dos modelos canónicos do movimento moderno
Contrariando
aquilo que o movimento moderno propõe e que geralmente se encontra nas
habitações construídas dentro do mesmo, esta casa apresenta um programa cujas
funções poderiam ser de uma casa de cariz mais romântico, nomeadamente no que
diz respeito à presença de divisões associadas à classe social da burguesia,
como a sala dos brinquedos, a adega, a saleta de receber e a sala da costura.
Defendendo o movimento moderno uma arquitectura branca, esta habitação
apresenta ainda um outro ponto que diverge desta arquitectura: há na habitação
a presença de granito, um elemento que nos remete para a tradição.
1TOSTÕES, Ana, Os Verdes
Anos na Arquitectura Portuguesa dos Anos 50, FAUP: 2ª edição, 1997, p.139
Bibliografia
TOSTÕES, Ana, Os Verdes
Anos na Arquitectura Portuguesa dos Anos 50, FAUP: 2ª edição, 1997
ORDEM DOS ARQUITECTOS,
Inquérito à Arquitectura Portuguesa do Século XX , http://www.iap20.pt/Site/FrontOffice/TableSelect.aspx?module=Ficha/FichaDetailMaisInfo&IDFicha=3063
AMORIM, Delfim, Memória
descritiva e justificativa do projecto (Arquivo Municipal de Guimarães), 1948
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